segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Entrevista: Marcelo Siqueira - artista, cicloativista e bike repórter

http://farm1.static.flickr.com/201/468052240_e206afe6ba.jpg?v=0Foto by Eduardo Bernhardt

 "Ao encontrar tamanha liberdade, felicidade e sentir na péle todos os benefícios que o uso da bicicleta fazem ao meu corpo e ao meio-ambiente, passei a incentivar o uso da bicicleta como meio-de-transporte. Por isso, me considero um Cicloativista. Como artista plástico, resolvi usar o graffiti como forma de expressão pra divulgar a existência de ciclistas em São Paulo"

FM - Quando você começou a se interessar por bicicletas?

Marcelo Siqueira - Comecei a pedalar aos 6 anos, mas durante a infância e adolescência só usava a bike pra passear no Ibirapuera, ou na USP. Depois passei a ir pra escola de bicicleta, mas minha bike não tinha nem marcha. Em 1994 fiquei sabendo dos Night Bikers, por causa de um amigo de escola, que era guia do passeio, junto com a Renata Falzoni. Ao mesmo tempo, um vizinho me contou da existência de um outro passeio, que saia às quintas feiras. Certa noite resolvi me aventurar e fui com esse vizinho no passeio dos Night Bikers. A partir daí comecei a ver o uso da bicicleta com outros olhos.

FM - O que mudou a partir daí?

MS - Os passeios me ajudavam a criar segurança pra pedalar pelas ruas da cidade e ai comecei, aos poucos, a substituir o uso de outros meios-de-transporte - carro e ônibus - pela bicicleta. Descansar da mesmice do cotidiano, pedalando à noite, serviu para ajudar a construir minha noção de liberdade. Ficar preso dentro do carro, pegar congestionamento, pagar IPVA, seguro, depender de estacionamento, ou ter que esperar mais de uma hora pra pegar um ônibus lotado, são coisas que não fazem mais parte da minha vida. Além de me ajudar a emagrecer - eu era bem gordinho quando tinha 15 anos - os passeios no Night Bikers, e com outros grupos que pedalam à noite, serviram pra me dar coragem pra pedalar em outros horários, no meio dos carros e do caos urbano.

FM - Você, então, começou a se preocupar mais com a qualidade de sua bike?

MS - Em 1997, montei minha primeira boa bicicleta que durou ate o ano passado. Não é todo mundo que pode ter uma Ferrari, mas qualquer pessoa pode comprar uma boa bicicleta. A partir do momento que meu modal de transporte passou a ser uma opção de qualidade de vida, resolvi investir mais na minha segurança, conforto e nos acessórios de minha bicicleta.

FM - O que é a "Bicicletada"?

MS - Para mostrar que as bicicletas estão cada vez mais presentes na cidade e vieram pra ficar, um grupo, denominado "Bicicletada", se reúne toda última sexta-feira do mês para reivindicar a bicicleta como meio-de-transporte, disseminar alegria e ajudar a humanizar o trânsito. Devolver o espaço público, ocupado pelos automóveis, é uma das minhas lutas e da "Bicicletada". As ruas foram feitas pras pessoas se locomoverem. Os carros são as celulas cancerígenas que estão estagnando as cidades. Causam enormes prejuízos para o meio-ambiente, geram, cada vez mais, congestionamentos, e incentivam o ócio, a preguiça e o isolamento. Espero que um dia as pessoas possam fazer um uso mais consciente do carro.
















FM - Que dificuldades você encontra no seu dia-a-dia para pedalar na maior cidade da América Latina?

MS - O que me mantêm vivo é a Fé. Minha religião é a lei de Murphy: "todos os objetos a sua volta tendem a ir na sua direção". Então acredito que devo pedalar como se eu fosse invisível, sempre. E se o cara me ver, a tendência é ele me atropelar de propósito. Pedalo como se eu nunca tivesse a preferência. Mas sempre dou preferência para os pedestres. Procuro ser cordial com motoristas tentando sair da garagem. Seguro o trânsito com minha bike pros pedestres atravessarem a rua aonde não houver semáforo, preferencialmente na faixa de pedestres. Com motoristas de ônibus o lance é tratá-lo com o lado humano da coisa. Dar um boa noite, perguntar do trânsito ou falar que "tá frio né?", servem de pretexto pra que lá na frente o motorista te veja e te respeite. Você passa a ser uma pessoa e não apenas uma bicicleta.

FM- É  aconselhável pedalar na calçada?

MS - O maior perigo de pedalar na calçada é ser acertado por um carro que está saindo da garagem. Por isso, mesmo quando vou levar alguma criança pra passear de bicicleta, pedalamos pela rua, utilizando o lado direito da via e mantendo uma certa distância dos carros estacionados, pois outro perigo se dá quando alguém abre a porta abruptamente.

FM - De que forma os cicloativistas podem contribuir para aumentar o número de ciclistas, sem o apoio da mídia e do Estado - lembrando que as montadoras estimulam ao máximo o consumo de carros, com diversas propagandas vinculadas na mídia, e os governos cortam impostos da indústria automobilística.

MS - Sinalizar a cidade, com graffiti no asfalto, indicando a ciclofaixa, tanto dentro de parques, como nas ruas, além de placas que indicam a presença de ciclistas nas ruas, é na minha opinião a melhor maneira de chamar atenção para a causa da bicicleta. A CET não quer bikes nas ruas, apenas dentro de parques, por isso o papel dos cicloativistas para convencer mais gente a pedalar é esse do graffiti e também o serviço de anjos da guarda, que consiste na ação de um ciclista experiente acompanhar no trânsito o trajeto de um ciclista novato.














Link´s interessantes:
http://www.bicicletada.org/tiki-index.php
http://www.nightbikers.com/

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